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Caminho de Assis - Itália: uma rota onde a busca espiritual de São Francisco, Santa Clara e Santo An

Atualizado: 7 de jan. de 2019



Minha vida de peregrina começa em 2001, quando fiz o Caminho de Santiago na Espanha. Acredito que os caminhos santos formam uma egrégora, onde as energias coletivas se fundem e aqueles que conseguem entrar em harmonia de corpo e espírito nunca mais sairão deles.

Procurando na internet sobre Caminhos na Europa, encontrei o “Caminno di Assisi” e, logo pensei, estarei ai, nos campos da Itália, nos passos de Francisco, e é essa energia que preciso para fechar mais um ciclo da minha vida, pois acabara de me aposentar depois de 25 anos de magistério.

A vida de São Francisco é apaixonante e ai veio à certeza, vamos percorrer esse caminho. Convidei meu marido que aceitou o desafio. Comecei a pesquisar e as informações em português quase não existiam, o que encontrei foram sugestões de fazer o caminho guiado, o que não era o nosso objetivo. Através do Faceboock, encontrei o grupo Caminno di Assisi e Giordano Picchi.

O Caminho de Assis busca resgatar uma região impregnada de fé e espiritualidade centrada nas figuras de São Francisco, Santa Clara e Santo Antônio de Pádua. Percorre lugares por onde esses santos viveram e tiveram momentos importantes de suas vidas como Montepaolo, Montecasale, Cerbaiolo, Camaldoli, La Verna, Assis entre outros. Ligado às antigas devoções e onde a busca espiritual desses homens santos se fazem presentes, seja no silêncio das montanhas, nas pedras das construções medievais, ou na natureza intocada do interior de uma Itália quase desconhecida. O caminho não é necessariamente religioso, ele é antes de tudo um caminho meditativo, um caminho de fé e por isso ele transcende as religiões.


Onde iniciar?

- O caminho de Assis inicia na pequena e encantadora cidade de Dovadola,

( pt.wikipedia.org/wiki/Dovadola) interior da Itália e chega até a cidade de Assis (pt.wikipedia.org/wiki/Assis_(It%C3%A1lia)),

Também pode ser iniciado em qualquer etapa, conforme a vontade, o preparo físico e a disponibilidade de tempo do peregrino. Atravessa parte das regiões da Emilia-Romanha, Toscana e Úmbria, sendo grande parte percorrido na região dos Apeninos. ( pt.wikipedia.org/wiki/Apeninos)

A princípio divido é em 12 etapas (294km)que poderão ser fracionadas, pois algumas são longas e com alto grau de dificuldade. Muitos iniciam sua jornada em La Verna, um lugar emblemático, onde São Francisco se retirou para a vida monástica e recebeu os estigmas de Cristo.

(santuariolaverna.org/storia.htm). Em minha opinião a etapa anterior a La Verna é uma das mais bonitas e instigantes do percurso.

Etapas:

0. Refúgio Benedetta Bianchi Porro - Dovadola

1. Dovadola- San Valentino Km 21 San Valentino -

2. San Valentino - Premilcuore Km 21

3. Premilcuore - Corniolo Km 18

4. Corniolo - Camaldoli Km 22

5. Camaldoli - Biforco Km 19

6. Biforco - La Verna Km 9 La Verna -(Chiuse della Verna)

7. La Verna - Caprese Michelangelo Km 23

8. Caprese Michelangelo - Sansepolcro Km 25- Montecasele

9. Sansepolcro - Città di Castello Km 29

10. Città di Castello - Pietralunga Km 30

11. Pietralunga - Gubbio Km 27

12. Gubbio - Valfabbrica Km 34

13. Valfabbrica - Assis Km 16 Assis

Essas são as etapas clássicas do Caminho de Assis, mas como disse antes, devem e podem ser fracionadas, pois tem percursos longos e em terrenos de montanha.

O Caminho de Assis vem se firmando como mais uma opção de peregrinação na Europa. Durante o trajeto vamos conhecendo figuras que com seu trabalho e dedicação vão moldando a cara dessa peregrinação. Primeiramente, em Dovadola somos recebidos pelo simpático Don Alfeu, o pároco da Abadia de San Andreas, que vai nos dar a Credencial e fazer o registro no livro dos peregrinos. No primeiro albergue encontramos a encantadora Silvia, brasileira casada com um italiano com quem formou uma linda família e um estilo de vida muito especial, será nossa primeira hospitaleira. Encontraremos com Carla de Primalcuore, a típica italiana que como uma “mama” recebe calorosamente os peregrinos. A cidadezinha medieval de Pórtico de La Romagna, onde nasceu Dante Aleghiere é um mergulho na Idade Média (usada como cenário para vários filmes e séries). Vamos nos deliciar com os pratos feitos por Gigino em Corniolo, onde um banquete de iguarias da terra nos fará recuperar as forças para mais um dia de caminhada. Em Camaldoli a jovem e bela Martina que no primeiro momento se mostra dura e distante, logo vai deixando ver que dedica aos peregrinos o que tem de mais importante na sua vida, que é o seu amor e o seu tempo. Em Biforco, não encontraremos hospitaleiros, mas uma porta aberta que nos convida a partilhar a refeição e nossas experiências.


Se tiver sorte pode conseguir lugar no albergue em La Verna, o emblemático lugar do caminho (reserve um tempo para La Verna, mesmo que não consiga lugar no albergue dos franciscanos). Ficamos em Chiusa de La Verna distante uns 3km, onde encontramos o bem montado albergue de “suora” Albertina, uma freira que desperta “simpatia” no primeiro momento e podemos visitar a casa dos pais de Michelangelo Buonarroti, onde se encontra a pedra que serviu de inspiração para uma das cenas mais famosas da pintura renascentista, onde Deus dá a vida ao homem, representado no teto da Capela Sistina. Em Michelangelo Caprese a cidade onde nasceu o gênio renascentista, podemos passear e visitar o museu de Michelangelo e jantar em um belo restaurante que pertence ao dono do albergue. Passaremos pela cidade de Sansepulcro e perdido no alto da montanha encontraremos o Eremo de Montecasele. Chegando a Gubbio nos deparamos com um dos mais belos burgos da Itália (onde encerramos nossa peregrinação a pé) até chegar enfim a Assis. Em algum momento cruzaremos com Giordano Picchi, o incansável mantenedor sinalizando o caminho com flechas verdes. Outros tantos personagens vão se delineado: peregrinos, hospitaleiros, turistas, moradores da região.


O que mais me encantou nessa jornada, foi o sentimento de espiritualidade, de sentir sobre meus pés o chão, a terra que foi percorrida por esses homens e mulheres que dedicaram a sua vida, a fazer um mundo mais justo e melhor. Acredito que a figura de São Francisco vai muito além do santo, sobretudo de um homem preocupado com os problemas sociais de seu tempo.

E como nem só de pão vive o homem, estar no interior da Itália é também desfrutar de mesa farta com iguarias próprias da região como o funghi porcini e a perfumada trufa, em italiano “tartufo”, um fungo que nasce debaixo da terra na forma de tubérculo que cresce em simbiose com algumas espécies de árvores (tília, faia, quercus-robur), caracterizando seu marcante aroma. (O preço do quilo do tartufo negro pode chegar a R$ 380 devida sua excentricidade; já o tartufo branco, por ser mais raro, é vendido por até R$ 2.700 o quilo). E como não poderia deixar de ser, tudo regado a um bom vinho.

Chegamos a Assis que fica na região da Úmbria no dia 14 de agosto de 2014, um dia ensolarado e luminoso. Viemos de ônibus da cidade da Perugia, não era exatamente como tínhamos planejado, mas não tinha como não se emocionar ao ver surgindo à cidadezinha medieval no alto na montanha.

Como tínhamos tempo sobrando resolvemos ficar dois dias. O que eu super-recomendo. Muitas pessoas dizem que não tem nada para se "ver" em Assis a não ser a Basílica, mas eu não concordo.


Assis está localizada no alto do Monte Subásio e surgiu com a civilização Etrusca sendo mais tarde conquistada pelos romanos que lhe deram o nome de Asisium.

A pequena cidade, com cerca de vinte mil habitantes, é um labirinto de ruas de pedras com subidas e descidas, possui um atuante comércio religioso, bons restaurantes e lindas confeitarias tudo isso misturado ao burburinho de turistas do mundo todo, peregrinos, padres e freiras dão ar especial a cidadezinha onde todos os caminhos convergem para a Basílica.


Em nós ficou a certeza que esse é um caminho diferente e não se pode comparara-lo a outros que percorremos e isso, talvez seja o maior encanto dele. Estar no meio da floresta, caminhar em lugares solitários, conhecer uma Itália quase selvagem, é uma experiência impar. Eu o chamei de Caminho da Paz, outros devem ter usado essa mesma expressão, pois não tem como não mergulhar no mais íntimo do seu ser ao realizar esse caminho. Pensar na vida dos "Santos" que deixaram tudo, para buscar essa paz, pensar na nossa vida. Nada melhor que caminhando.... Meditando.






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